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BUENOS AIRESEle sabe que está na contramão do que se vê nos festivais internacionais de cinema, mas foi justamente isso o que o motivou a trabalhar durante dez anos para filmar “Averno”, seu sétimo longa-metragem. Longe do que ele chama de “cinema latino-americano clássico, como Tropa de Elite”, o filme que o cineasta boliviano Marcos Loayza apresentará no próximo Festival de Gramado (de 16 a 25 de agosto) não tem um gênero definido, mas aproxima-se de certo “realismo mágico”. Loayza sabe que a aposta é ousada e considera que Gramado será para “Averno” — escolhido como melhor filme latino-americano no Festival de Cinema Independente de Buenos Aires (Bafici) em maio passado — “a grande prova de fogo”.
‘O filme começa de forma muito ocidental e termina totalmente andino’
- MARCOS LOAYZADiretor
Trata-se da primeira coprodução cinematográfica entre Bolívia e Uruguai. O projeto nasceu pela amizade entre o diretor e o fotógrafo uruguaio Nelson Waistein, peça fundamental para que “Averno” se tornasse realidade.
— Longe de mostrar uma América Latina mais atraente e turística, como podemos ver em séries como Narcos, mergulhamos no mundo andino e mergulhamos tão profundamente que até para os bolivianos algumas coisas não são mais familiares — explica Loayza ao GLOBO.
As primeiras cenas do filme enganam e fazem o espectador pensar que será um filme estereotipado. Uma família humilde de La Paz toma café da manhã, e o filho mais velho leva um dos irmãos até a escola e vai trabalhar no centro da cidade como lustra-botas. Até aí, uma cena corriqueira. A aventura começa quando este rapaz, Tupah (Paolo Vargas), recebe por parte de um desconhecido que está organizando um funeral a missão de encontrar um tio chamado Jacinto, que toca numa banda de música.
A partir desse momento, Tupah entra numa espécie de labirinto que percorre a noite de La Paz, visitando lugares e conhecendo pessoas que vão incorporando ao relato lendas e personagens da cultura andina.
— O filme começa de forma muito ocidental e termina totalmente andino. Muitos dos mitos que aparecem estão se perdendo, ou estão sendo modificados. Quis resgatar, fazer um filme para nós mesmos, para mim mesmo — diz Loayza, que passou muitos anos estudando a cultura andina, na Bolívia e em outros lugares como a Argentina.
Na interminável busca por seu tio, Tupah é perseguido por um personagem inspirado no minotauro grego e encontra outros presentes nas diversas subculturas andinas que convivem em seu país, como o Anchuanchu (espécie de Deus que vive nas trevas), as Kataris (cobras em aimara) e o Lari Lari (personagem assustador, que, no mito clássico, aparece de diferentes formas como gato, ave, homem e cobra, entre outras).
Loayza, que há 23 anos estreou seu primeiro longa, “Questão de Fé”, premiado em Havana e Biarritz, disse ter estudado muito antes de filmar “Averno”, para aprender sobre essas lendas, dedicando bastante tempo a analisar o “Vocabulário da língua aimara”, escrito em 1612 pelo padre jesuíta Ludovico Bertonio.
— Fiz uma pesquisa com muito carinho — diz o diretor, que buscou, ainda, recriar lugares da antiga La Paz que já não existem.
Averno, de fato, era o nome de um bar frequentado por intelectuais nas décadas de 60 e 70, um lugar “daqueles tipo buraco negro, cheio de bêbados e do qual você poderia perfeitamente não sair vivo”, lembrou Loayza, que chegou a conhecer esse antro pacenho. No livro “Bêbado estava, mas me lembro”, o escritor boliviano Victor Hugo Viscarra refere-se ao lugar como “uma das cantinas de categoria, que em seus bons tempos era uma verdadeira antessala do inferno. Lá ocorreram infinidade de assaltos, estupros e brigas”.
— Quis fazer um filme diferente, que durasse no tempo. Na Bolívia já superamos os 26 mil espectadores, é muito para um filme nacional. Hoje as pessoas preferem Marvel — brinca o cineasta.
Um de seus objetivos foi provocar o inconsciente popular, “falar sobre lugares escondidos no ser humano de uma forma totalmente desestruturada”.
— Trabalhei com total liberdade. No filme se abrem portas e pode acontecer qualquer coisa. Muitos não gostaram, certamente, porque ficaram desconfortáveis — afirma Loayza.
"COMO DESCER NUM ESCORREGA"
A fotografia é do uruguaio Wainstein, e toda a pós-produção de som foi feita em Montevidéu. A música, ao contrário da temática do filme, não é andina.
— Optamos por um ritmo mais operístico — conta o diretor.
No final do labirinto, Tupah chega, finalmente, ao Averno, na Divina Comédia, o vulcão que leva Dante até o inferno. Loayza conta, como ele diz, “a viagem do herói do ponto de vista andino”.
— Se fosse um filme ocidental, Tupah teria um objetivo, mas em “Averno” nada está muito definido, é como descer num escorrega. Cada um entenderá o objetivo da viagem de uma maneira diferente, o filme não tem um sentido único.
Faltando menos de um mês para Gramado, a ansiedade está à flor da pele.
— Será nossa prova de fogo, nos intriga muio saber como o público brasileiro vai receber este filme — conclui Loayza.
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